Abençoada a alma que escreveu, em resposta a Saramago:
"Mais vale ser português por um minuto que castelhano toda a vida."
terça-feira, julho 17, 2007
quinta-feira, julho 05, 2007
O Rei vai Nu, ou as Riscas do Berardo
De um modo inesperado e não intencional, dei por mim no CCB a ver a recém-aberta exposição da Colecção Berardo. A entrada foi livre, o "pecado" assim facilitado. Nunca teria ido se não fosse grátis, sou uma pessoa que gosta de calcular bem o risco, e as hipóteses eram de 99 para 1 de esta ser uma mostra completamente revoltante.
Porém, milagre, não o foi - revoltante, isto é. Aliás, pensei que a falta de qualidade nas peças mostradas fosse bastante maior. No entanto, houve este episódio que ilustra a total falta de critérios quando se profere a palavra «Arte».
Durante a visita, eis um painel com riscas verticais, pretas e brancas. Ia acompanhado por uma pessoa que conhece bem os meandros deste mundo da dita Arte, e esta, ao ver ao longe a peça das riscas, afirma de imediato o nome do autor - que verifiquei estava correcto. Perguntei-lhe «como é que consegue saber de quem é uma peça destas, se são apenas riscas pretas e brancas?» Disse-me esse entendedor: «É fácil. O fulano que fez esta peça foi o único que conseguiu convencer suficientes pessoas de que aquilo que fazia tinha valor. Como o critério da exposição é o valor monetário, então estas eram as únicas riscas suficientemente caras para poder estar aqui presentes.»
O problema destas exposições é este mesmo. Ou estamos confiantes daquilo que achamos sobre a peça - eram riscas - ou se deixamos uma ponta de insegurança espreitar, rapidamente poderíamos encontrar-nos pensando «seria mesmo preto, seria mesmo branco? se calhar era quase preto, ou quase branco - e que significado terá isso? a constante procura do perfeito, do exacto? colocado em linhas verticais paralelas - como quem diz "não estás só!"» +++ALTO!+++. É perigosa esta rota... simplesmente porque eram apenas riscas, muito provavelmente brancas imaculadas e pretas profundas. O dito artista não passa de um insinuador, alguém que sem saber o que quer dizer, qual charlatão, deixa no ar largos inuendos que nem ele sabe onde vão dar. Dirá ele "é isso mesmo a Arte, provocar o diálogo, a reflexão". Tretas. Tem razão sobre os benefícios de provocar o diálogo e reflexão, mas não à custa da dignidade das pessoas. Sim, dignidade, pois é indigno chamar a uma coisa destas uma exposição de Arte e pedir a todos que vão na conversa, tratando os que discordam como incultos.
Para além do mais, com a insegurança que hoje reina, é muito comum ouvir-se dizer «Ah! Eu gosto, mas não percebo nada de Arte.» Este grupinho internacional de charlatães profissionais conseguiu convencer o mundo de que a Arte se tinha de entender, quando a arte tem, acima de tudo, de ser sentida e apreciada. Poderá eventualmente ser racionalizada, mas a Arte não vive, não respira, e logo não existe se estiver reduzida a um nada caótico que precisa de tradução de um crítico qualquer.
No video abaixo, uma experiência ilustradora da confusão generalizada, uma pintura feita por crianças de um infantário é levada para a ARCO, feira de arte contemporânea em Madrid. Ninguém na feira duvida de que é uma peça valiosíssima e de enorme qualidade artística. Tudo isto passa pelo pensamento «eu não percebo nada disto, mas se está aqui, é porque é bom.» Ao que isto chegou...
Nota: Na ausência de uma imagem da dita peça das riscas pretas e brancas, pensei em ilustrar este post com outra imagem qualquer do mesmo tipo de riscas. Não o fiz. Decerto havia algo naquelas riscas do Berardo que escapou à minha percepção, e não quero assim causar nenhum constrangimento a possíveis conhecedores da obra desse excelso artista cujo nome agora não me recordo (e que peço não mo lembrem).
Porém, milagre, não o foi - revoltante, isto é. Aliás, pensei que a falta de qualidade nas peças mostradas fosse bastante maior. No entanto, houve este episódio que ilustra a total falta de critérios quando se profere a palavra «Arte».
Durante a visita, eis um painel com riscas verticais, pretas e brancas. Ia acompanhado por uma pessoa que conhece bem os meandros deste mundo da dita Arte, e esta, ao ver ao longe a peça das riscas, afirma de imediato o nome do autor - que verifiquei estava correcto. Perguntei-lhe «como é que consegue saber de quem é uma peça destas, se são apenas riscas pretas e brancas?» Disse-me esse entendedor: «É fácil. O fulano que fez esta peça foi o único que conseguiu convencer suficientes pessoas de que aquilo que fazia tinha valor. Como o critério da exposição é o valor monetário, então estas eram as únicas riscas suficientemente caras para poder estar aqui presentes.»
O problema destas exposições é este mesmo. Ou estamos confiantes daquilo que achamos sobre a peça - eram riscas - ou se deixamos uma ponta de insegurança espreitar, rapidamente poderíamos encontrar-nos pensando «seria mesmo preto, seria mesmo branco? se calhar era quase preto, ou quase branco - e que significado terá isso? a constante procura do perfeito, do exacto? colocado em linhas verticais paralelas - como quem diz "não estás só!"» +++ALTO!+++. É perigosa esta rota... simplesmente porque eram apenas riscas, muito provavelmente brancas imaculadas e pretas profundas. O dito artista não passa de um insinuador, alguém que sem saber o que quer dizer, qual charlatão, deixa no ar largos inuendos que nem ele sabe onde vão dar. Dirá ele "é isso mesmo a Arte, provocar o diálogo, a reflexão". Tretas. Tem razão sobre os benefícios de provocar o diálogo e reflexão, mas não à custa da dignidade das pessoas. Sim, dignidade, pois é indigno chamar a uma coisa destas uma exposição de Arte e pedir a todos que vão na conversa, tratando os que discordam como incultos.
Para além do mais, com a insegurança que hoje reina, é muito comum ouvir-se dizer «Ah! Eu gosto, mas não percebo nada de Arte.» Este grupinho internacional de charlatães profissionais conseguiu convencer o mundo de que a Arte se tinha de entender, quando a arte tem, acima de tudo, de ser sentida e apreciada. Poderá eventualmente ser racionalizada, mas a Arte não vive, não respira, e logo não existe se estiver reduzida a um nada caótico que precisa de tradução de um crítico qualquer.
No video abaixo, uma experiência ilustradora da confusão generalizada, uma pintura feita por crianças de um infantário é levada para a ARCO, feira de arte contemporânea em Madrid. Ninguém na feira duvida de que é uma peça valiosíssima e de enorme qualidade artística. Tudo isto passa pelo pensamento «eu não percebo nada disto, mas se está aqui, é porque é bom.» Ao que isto chegou...
Nota: Na ausência de uma imagem da dita peça das riscas pretas e brancas, pensei em ilustrar este post com outra imagem qualquer do mesmo tipo de riscas. Não o fiz. Decerto havia algo naquelas riscas do Berardo que escapou à minha percepção, e não quero assim causar nenhum constrangimento a possíveis conhecedores da obra desse excelso artista cujo nome agora não me recordo (e que peço não mo lembrem).
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