quarta-feira, dezembro 20, 2006

A República foi uma pausa.


A visão simplista e partidarista da História nunca foi premiada com grandes sucessos, sendo constante as mudanças de opinião e distorção de factos pelos interessados em publicitar e engrandecer o seu ponto de vista específico. Deste modo, olham alguns para o passado procurando uma evolução darwiniana constante, da eliminação dos mais fracos pelos mais fortes, esquecendo-se que o processo histórico se faz de ciclos e pausas e não de um pseudo-progresso perpétuo. A República foi uma pausa.

Numa visão linear poder-se-á dizer que a Monarquia foi derrubada pois já não servia os interesses do país. Muito provavelmente estarão certos os que utilizarem este argumento (não que o sistema que a substitui tenha feito melhor), mas foi provavelmente necessário um período de pousio fundamental para uma Renascença Monárquica, para o fortalecimento da Ideia Real enquanto conceito e para que, sem nenhum sentido dramático, houvesse uma certa "purificação" daquilo que deve ser a Monarquia Portuguesa, pois os alicerces que fundamentavam o regime que caiu em 1910 necessitavam de ser substituídos, de modo a sustentar Portugal no momento em que o Povo escolher devolver a Chefia de Estado ao Português mais bem preparado para tal.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Henrique Barrilaro Ruas: "Entre o conservador e o tradicionalista, a distância é invencível."

"Entre o conservador e o tradicionalista, a distância é invencível.

O conservador aceita o facto consumado, não apenas como facto, o que seria científico, mas como bem indiscutível. Pode o seu sentimento revoltar-se contra o significado humano do facto, mas, logo que este se conclui e estabiliza, o conservador sente-se incapaz de se lhe opor.

Por isso a sua atitude perante os factos novos é caracterizada, na melhor das hipóteses, por uma miúda e mesquinha luta de posições, porque lhe importa sobremaneira impedir a ocupação pelo adversário do mais pequeno recanto da vida social.

Ao contrário, o tradicionalista é capaz de valorizar até os factos isoladamente contrários aos princípios fundamentais da doutrina que professa. Senhor de uma visão rasgada e profunda da História, recusa-se a disputar palmo a palmo o terreno pretendido pelo inimigo real ou aparente. Sabe que a história humana não é semelhante a um desdobrar tranquilo e lógico dos teoremas e dos corolários, mas inclui e arrasta muitos elementos aparentemente inúteis ou prejudiciais, e, no entanto, susceptíveis de receber do bem e da verdade um sentido e uma salvação.

Nesta perspectiva, o tradicionalista não apenas aceita cientificamente os factos de observação imediata, como lhes dá um significado superior, pois procura extrair deles um bem que eles não permitiam."

Henrique Barrilaro Ruas, in "A liberdade e o Rei", Lisboa, 1971

sábado, dezembro 09, 2006

Ideal Português

(foto: Paul Teixeira - www.pbase.com/paul_teixeira/)

«(...) o povo português acha que (...) a criança deve ser proclamada imperador do mundo, que é ela que tem de mandar no mundo e que é na medida em que manda que o mundo pode realmente melhorar. Isto é, o povo português, que não sabia nada de Platão, a quem provavelmente atrapalharia muito uma coisa puramente platónica, estava de acordo com ele quando dizia que a criatura que vem do céu das ideias é a criatura perfeita e é na terra que ela ganha aquele barro, aquela lama que cobre o esplendor do céu das ideias e faz cada de um de nós pobres seres em que só num ou noutro aparece um relâmpago deste céu das ideias.»

Agostinho da Silva, in Vida Conversável - Assírio & Alvim, 1998.

Para cada Povo, um Sistema

Ao verificarmos que cada Povo tem a sua personalidade colectiva e a sua forma de estar e viver, vemos que é tanto inaceitável como inaplicável a solução que hoje muitos colocam: a democracia republicana liberal e baseada no capital, uniformizada, para o maior número de países possível. Tal afirmação é a total anulação das características que fazem cada Povo ele próprio e que garantem a tão desvalorizada identidade nacional que só traz riqueza ao Mundo. A manta de retalhos que são as culturas individuais é aquilo que dá interesse à civilização Humana e conceber um mundo semelhante a um pano castanho da amálgama disforme de tudo e todos é algo que não dignifica a nossa espécie.

Mantendo o espírito de Dante presente, já ele escrevia no séc. XIV:
«De uma maneira deverão ser conduzidos os citas que vivem fora do sétimo clima, sofrem de uma grande desigualdade entre os dias e as noites, e são flagelados por um frio quase insuportável; e de outra os garamantes que, habitando abaixo do equinócio, beneficiam de dias e noites sempre iguais, e não podem cobrir-se de indumentária por causa do calor excessivo.»
É claro que nem só o clima influencia as culturas nem é ele a sua medida. Porém, é pertinente pensar que os grandes impérios, ou seja, quando a Pátria e o Estado funcionaram através do mesmo fio condutor, existiram num contexto de clara adaptação do sistema de Estado à população nele inserida.

Para Portugal, especificamente, convirá um sistema Monárquico, sim, mas uma Monarquia Portuguesa e não um qualquer franchise de algo encontrado noutro país. Com isto quero dizer que Portugal deverá ser ele próprio: Atlântico, decerto; Europeu, com certeza; mas Português, sem complexos. Deste modo haverá na Monarquia a Instaurar elementos comuns a outras Monarquias europeias, mas deverá haver no modo de agir do Rei e da sua relação com os governos e com o Povo algo que nos é comum a todos, pois de outro modo corre-se o risco de criar um sistema em parte artificial, que não se reflecte na sua totalidade naquilo que é a Realidade Portuguesa.

Contra o culto da personalidade.

Nesta sociedade de produtos e marcas, onde pessoas e países são vistos como bens transaccionáveis, entidades passíveis de valorizar e perder valor dependendo dos ventos mediáticos, há que estabelecer uma forte objecção a estes conceitos, naquilo que diz respeito aos valores Monárquicos e Tradicionais e à sua divulgação.

Não podemos criar argumentos onde pese o valor pessoal de A, B ou C. Quando se falar publicamente do Ideal Real é certo que se mencione o trabalho desinteressado que, por exemplo, D. Duarte fez e faz pelo País, mas não pode este aspecto ser o fulcro do debate. Tratamos de valores, princípios e convicções e não de personalidades. Concentremos as nossas energias em explicar claramente as vantagens da Monarquia, pois essas são inabaláveis e intemporais - é nestes valores, sem prazo de validade, que temos de apoiar os nossos argumentos.

Hoje temos a sorte de ter um Herdeiro ao Trono que é totalmente ciente da sua posição e a honra. Daqui a cem ou duzentos anos poderemos não ter um Monarca de tal adaptabilidade aos princípios Reais e para isso temos de estabelecer um sistema que, ao contrário da cultura de Personalidade hoje vigente com a República, se auto-sustente em alturas menos propícias.

domingo, dezembro 03, 2006

De Monarchia, Dante Alighieri


"Atinge o género humano a perfeição quando desfruta de uma grande liberdade. E é esta asserção evidente se se compreende o princípio da liberdade. (...) Os regimes sãos visam à liberdade, isto é, a que os homens existam para si mesmos. Não são, com efeito, os cidadãos que existem para os cônsules ou o povo para o rei, mas antes os cônsules para os cidadãos, e o rei para o povo;"

in Monarquia (De Monarchia), Dante Alighieri, pp30-32. Guimarães Editores, Lisboa, 1999.

sábado, dezembro 02, 2006

A Monarquia não é Remédio


Enganam-se aqueles que acham que a Monarquia resolverá os problemas de que Portugal padece. Pois bem, a Monarquia não é remédio, não devolverá a auto-confiança aos Portugueses, não trará enriquecimento económico. Do mesmo modo não foi a República que trouxe as desgraças e desilusões que se verificam hoje. Quem disser o contrário está, a meu ver, equivocado.

O que acontece na realidade é que à Monarquia cabe apenas criar um ambiente, mudar o cenário, mudar o tom da realidade portuguesa, dando oportunidade ao potencial real dos Portugueses que se revele e prospere. Igualmente, coube à República dar as condições para que elementos vários levassem à degenerescência a que chegámos.

Para que o debate seja justo e claro, não podemos propor a monarquia como se de uma cura se tratasse - não o é, de facto. Podemos sim dizer com toda a certeza que é o primeiro passo para que se possa expressar o espírito Português, que em todos habita, mas que o sistema vigente teima em deixar acabar.

Concluindo e personalizando, não cabe ao Rei resolver todos os problemas da Nação, mas sim propiciar a sua resolução. Cria-se assim uma sinergia forte e coesa, entre Rei e Povo: uma cumplicidade que nasceu há muito e que nada pode quebrar.