quinta-feira, maio 03, 2007

Sobre o «Desenvolvimento»


Foto: Monsaraz, Alto Alentejo. Um lugar raríssimo onde ainda se respira o ar da Idade Média, é um dos poucos locais que tem vindo a escapar a um Turismo extremo. Porém, os empreendimentos ligados ao Alqueva ameaçam tornar esta vila em algo que não é: uma loja. Esperemos que os autarcas e as gentes da terra tenham o senso de manter a sua vila para que não se perca mais um monumento vivo a favor do comércio e do Turismo em massa.

O conceito de «desenvolvimento» é hoje algo de que se usa e abusa para corresponder a interesses particulares, raramente de acordo com o interesse nacional.

Aquilo a que chamam o desenvolvimento do turismo, criou em muitos casos, situações onde os próprios habitantes se sentem excluídos da sua terra natal, dando lugar a um mar incessante de turistas que alimentam as lojas de souvenirs. Isto será decerto «desenvolvimento», mas estritamente económico e para poucas empresas que dominarão o mercado nessa zona. A maioria dos habitantes sentir-se-á excluído da sua própria rua, onde os preços são inflacionados «para inglês comprar». Não há nada de errado com o Turismo em si, note-se, mas este deve ser proporcional à área em causa e sempre de acordo com o interesse da população local, que aí cresceu e viveu e cuja vivência do sítio tem de ser respeitada.

O mesmo «desenvolvimento» económico que fomenta o comércio, acarreta consigo as desigualdades sociais que dão origem às ondas de crime nos países ditos civilizados, às quais Portugal ainda vai escapando, dado o seu «atraso».

O Verdadeiro Desenvolvimento é aquele que cada país escolher fazer, para si próprio - é um opção. Trará animosidades, frustrações, etc... mas a essência de Portugal, como se vê pelo estado do País, não é compatível com o capitalismo cego que pauta os mercados ocidentais, nem é compatível com o modo de viver dos novos escravos do emprego, que alimenta as economias ditas «avançadas» e desenvolvidas; a essência de Portugal também não tolera as obrigatórias disparidades que caracterizam os países que querem fazer de si mesmos uma massa disforme de betão armado.

Poderão dizer que esta é a apologia do atraso. Não é disso que se trata - é sim fazer uma opção de vida conjunta. Se quisermos ser como os outros, perderemos o «jogo», porque não somos os outros, mas se assumirmos as nossas diferenças e seguirmos o nosso caminho, em cooperação e não em subserviência dos estilos de vida dos outros países talvez possamos seguir um caminho que não seja uma traição tão grave daquilo que Portugal e os Portugueses realmente são.

1 comentário:

Anónimo disse...

Desenvolvimento, talvez simplesmente por influência mimética afrancesada (por tanto), é um termo que na língua portuguesa adquire todo o seu potencial desconcertante ou dúbio; revela-se na sua capacidade subliminar mais enervante.

Assim, e na sua denotação ou definição etimológica, é curioso verificarmos que “des-envolvimento” pretende significar precisamente o que está subjacente a esta nossa preocupação, quase latente e “pastosa” em que a civilização actual se encontra; “Des-envolver” é contrariar o envolvimento… É, precisamente - pelo menos, “também” -, favorecer o isolamento, a segmentação da realidade, em suma, o interesse parcial face ao geral; o imediato face ao “lógico” ou substantivo. E a sua abusiva e também “pastosa”, indefinida, inconsciente, “sonolenta” referenciação acaba incontornavelmente por chegar aos pontos e aspectos mais recônditos da realidade.

Dá-se, assim, uma diferente axiologia (um diferente conjunto de valores e princípios, da e na nossa realidade histórica actualizada, existentes na consciência geral e na consciência jurídica e política geral) daquela que a própria etimologia do termo consagra. Por simples “hábito” e mau uso semântico, a própria realidade (o seu entendimento, a concepção da mesma, as perspectivas que se lhe aferem) se transforma.

Este facto, mesmo se constatado na sua perplexidade, não invalida os factores, por ventura válidos, que estejam subjacentes a essa “viragem” (muitas vezes intencional, mas outras vezes também “tragicamente” vulgarizada, sem correspondente real intenção), não escondendo, assim e quase sempre, uma determinada teleologia (um fim ou um interesse visado) “truncada”, por abusiva, subliminar ou ilógica na sua génese ou finalidade. É caso para dizer que, de tão (mal) usado e/ou aplicado, o termo ficou “gasto”; ganhou o seu significado pleno ou universal mais mesquinho e primário, que se acredita ter tido inicialmente como base a simples “desamarração” a constrangimentos vários, na altura mais “atávicos”, mas transformando-se agora num conceito muitas vezes paradoxal, ambivalente, “secretista” (atreito mesmo às próprias teorias mais conspirativas, para os mais cínicos) no que às reais premissas e valores significa por quem o profere, conotando-se, então, com conceitos em si mesmos potencialmente opostos ou “fraticidas”.

BNV