segunda-feira, dezembro 03, 2007

Momento para Recordar


Paulo Lobão entrega ao Dalai Lama uma Coroa do Espírito Santo, em prata, que trouxe da Ilha Terceira.

O momento teve lugar durante um encontro interreligioso, na Mesquita de Lisboa, um acontecimento inédito na vida do «monge/monarca» Tibetano.

sábado, dezembro 01, 2007

Crepúsculo sobre o Cinzento


Separam-me da Liberdade. Sou cada vez mais persuadido de que esse conceito absoluto é cada vez mais relativo, mais relativizado, mais exilado desta realidade e deste reino de possibilidades. O Amor pela capacidade de livre acção é hoje posto em causa, não por opositores, por castradores, mas sim por subtis mestres na arte de mudar o significado das expressões. Já lá vai o tempo em que a censura quebrava o discurso, ou que o desplante da represália assolava as vidas dos cidadãos medificados. Hoje vive-se numa época de cinzentas intenções. Há quem defenda o preto ou o branco, mas no geral ninguém carrega nenhuma bandeira que não seja uma mescla de nada com tudo. O perigo é que, nestes ambientes pouco definidos e de intrigas encobertas, espreita por todo o lado a serpenteosa intenção de se apoderar dos conceitos: quando reina a confusão, quem sabe quem é e o que defende, está em clara vantagem quanto aos demais que, iludidos e ludibriados, vivem embriagados numa quasi-escravidão.

«Em terra de cegos, quem tem olho é Rei». Hoje há poucos olhos abertos, mas temo que aqueles que nesta massa disforme conseguem entrever algum sentido, não são aqueles que têm por objectivo o bem-comum ou o dissipar do cinzentismo. São exactamente os criadores desta verdadeira tempestade de areia que se assumem hoje como líderes dos homens, como portadores da luz.

A esperança reside em pensar que se levantarão líderes justos entre os escombros de uma civilização que, impetuosamente autofágica, vende a liberdade pelo preço mais alto e que não traz a nada nem a ninguém qualquer real sentimento de que o Ser Humano merece e está muito acima desta imensidão estéril, vazia de forma ou conteúdo.

Se a morte, a infelicidade, a quebra de valores e de convicções for por alguma razão que hoje não compreendemos (Deus tem, apesar de tudo, os Seus métodos, cada vez menos claros para nós), então que seja para uma efectiva Renovação de mentalidades, uma verdadeira Restauração do Ser como um todo, sem espartilho ou dispersão. Assim, parece-me, terá valido a pena. Entretanto, vamos vivendo, mais ou menos acordados nos meandros deste vale em pleno crepúsculo, onde só não se sabe se vai cair a Noite ou irradiar o Sol da manhã.

1 de Dezembro de 2007.

Dia da Restauração de Portugal.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Pensamento Independente, Caminho para a Liberdade


Os partidos e as organizações de intervenção política criam-se, normalmente, segundo princípios nobres, como a regeneração de um país, a criação de sistemas político-económicos mais justos, a defesa dos mais fracos e desprotegidos. Não podemos nem devemos criticar estas organizações na sua essência e génese que são assaz dignas e respeitáveis.

É porém fácil de observar que aqueles que um dia se apresentaram como estando dispostos a organizarem-se de modo a beneficiar a sociedade em geral, atingiram hoje uma massa de proporções tais que, fora de qualquer controlo, fora de qualquer princípio democrático, acabaram imersos em intriga imediata e regidos por um impulso vorazmente autofágico. Estas organizaçãoes são hoje incapazes de se reorganizar ou mobilizar e vão invertendo o propósito pelo qual se formaram, tentando desta feita organizar a própria sociedade de modo a manterem-se à tona de água, apesar do «naufrágio» iminente do País.

Estas tendências degenerativas estão patentes em tudo o que existe e só os incautos não as tomarão em conta. Cabe porém àqueles que se dizem regidos por princípios nobres e de cidadania, reconhecer a inutilidade da forma que os reveste e tentar encontrar soluções dinâmicas, flexíveis e efectivas para rapidamente intervir de modo a inverter e impedir o caos geral em Portugal.

Foi com esta convicção, a de que é possível intervir na sociedade construtivamente e sem «servir a dois senhores», que me associei ao recém-criado Instituto da Democracia Portuguesa, desejando que o caminho a trilhar seja honrado, de futuro, e concentrado num objectivo apenas: o interesse de Portugal como prioridade máxima. Tudo isto através de um pensamento independente, que é a única chave para a manutenção da nossa Liberdade.

terça-feira, outubro 30, 2007

Instituto da Democracia Portuguesa: Assembleia Geral Constituinte

Teve lugar no passado dia 29 de Outubro de 2007 em Lisboa a Assembleia Geral Constituinte do Instituto da Democracia Portuguesa (IDP). Foram eleitos os corpos sociais a apresentado o programa geral de actividades para 2008.

Digno de nota foi a afluência por parte dos associados e que também, no período reservado à sua intervenção, expressaram o seu desejo de que o IDP venha a desempenhar com sucesso um lugar necessário na sociedade portuguesa: uma acção independente que procure soluções para problemas prementes ligados, entre outros, ao ordenamento do território, à indepedência de Portugal no quadro dos nossos compromissos internacionais, das áreas metropolitanas e à ligação com os países lusófonos.

É presidente de honra do IDP Dom Duarte de Bragança, é presidente da Assembleia Geral o Dr. Fernando Nobre, tem como presidente do Conselho de Curadores o Arq. Gonçalo Ribeiro Telles e como presidente da Direcção o Prof. Mendo Castro Henriques. Entre os seus associados, o IDP conta com vários ex-governantes, académicos, militares, entre outros que, num esforço claro da sociedade civil, aderiram a esta iniciativa para colocar a sua experiência ao serviço deste projecto que se quer que seja, verdadeiramente, um projecto de interesse nacional.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Real Regata das Canoas - 5 OUT. 2007



Um dia bem passado! Obrigado Sailor Girl!

sábado, setembro 29, 2007

Estado. País. Condomínio.

Não consigo compreender aqueles que constantemente confundem o Estado com o País. Alternam os dois termos, sem critério algum, como se fossem sinónimos. Esta falta de claridade de visão resulta no equivalente a confundir um prédio com a empresa do condomínio, a gestão do espaço comum com o todo de que fazemos parte integrante. Não termos este posicionamento, resulta em que não podemos ser críticos do Estado sem ser, ao mesmo tempo, críticos do País. Tal é uma negação de uma liberdade básica em democracia e cuja aplicação só tem como consequência uma perda de auto-estima, dada a auto-crítica implícita. É já tempo de olharmos para o primeiro-ministro, não como "dono da casa" mas como "governanta".

quarta-feira, setembro 26, 2007

The Economist: Google - A superpotência da Internet enfrenta desafios


Num artigo publicado na sua edição de 30 de Agosto de 2007, a revista The Economist faz uma análise bastante lúcida sobre a Google, enquanto empresa, e sobre os seus cada vez mais necessários serviços e produtos.

Trata-se de uma empresa que viu as suas acções altamente valorizadas em bolsa, tento tido capacidade de comprar cada vez mais empresas e, portanto, conhecimento e soluções sem ter que as desenvolver de raiz. Isto permitiu que o seu leque de serviços, grátis aliás, se tornassem cada vez mais utilizados. Os pontos positivos destas funcionalidades são conhecidos de todos e cada vez mais explorados por empresas, particulares, universidades e centros de conhecimento.

Porém, a revista The Economist alerta para o facto de que esta empresa se tem tornado, literalmente, num banco. Não num banco no sentido financeiro (embora movimente milhões), mas sim num banco de informação, de índole pessoal, comercial, etc...

O slogan inicial da empresa era «don't be evil». No entanto e à medida que a empresa fica exposta a riscos e possíveis crises no mercado de capitais, o autor do artigo preocupa-se com a sua fidelidade a este slogan inicial, denotando o risco que poderia advir para o mundo inteiro de uma possível mudança de tom na actuação da Google, uma verdadeira superpotência a quem praticamente todos estamos ligados.

Leia o artigo aqui: http://www.economist.com/opinion/displayStory.cfm?Story_ID=9725272

quarta-feira, setembro 19, 2007

O Panteão Nacional e o Humanismo, por Frederico Brotas de Carvalho


Aquilino é transladado hoje para o Panteão Nacional em nome "da avaliação da sua obra literária". Não foi escrutinado por um outro critério: O valor da defesa do humanismo!

A banda da GNR interpretará , hoje, ao longo da cerimónia o Hino Nacional e ainda uma marchade Luiz de Freitas Branco. Na ocasião(1908), este artista e humanista português ficara em estado de "choque" com o regicídio, até por se convenceu que seu pai também teria sido morto.

De facto a família real não foi apenas seriamente afectada com a morte do pai e do filho mais velho.
Foi também condenada à morte por uma irmandade que integrava Aquilino. Buiça e Costa mortos, não foram acompanhados, na mesma irmandade, por uma confissão do escritor. Pelo contrario, a sua vida ,nas décadas que se seguiram, tomaria uma via de muito maiores comodidades e aburguesamentos.

41 anos antes, em 10 de Junho de 1867, Vitor Hugo escrevia a propósito da abolição da pena de morte, a Eduardo Coelho, director do diário de Noticias: " ...Felicito o vosso parlamento, os vossos pensadores, os vossos escritores e os vossos filósofos. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfruta de antemão essa imensa gloria. A Europa imitará Portugal. Morte à Morte! Guerra à Guerra! A liberdade é uma cidade imensa da qual somos todos cidadãos. aperto-vos a mão como a meu compatriota na humanidade."

O panteão nacional está reservado a politicos artista e pensadores, tal como Hugo em Paris, que comunguem dos valores do humanismo em toda a sua vida.

Resta esclarecer se durante a primeira parte da vida em que se declarava germanófilo, presumo proprussiano, Aquilino também pugnava pelos valores da democracia humanista.

De facto é desajustado e precipitado eleger Aquilino para a transladação apenas sob o critério do valor da "Obra Literária".

Se vivemos verdadeiramente numa sociedade democrática e humanista, nunca é tarde para rever estas atitudes e faze-las reverter, com as novas informações que, agora, sob investigação mais aturada, venham à vir superficie.

domingo, setembro 16, 2007

PÚBLICO: Alerta para crise no Darfur reúne cerca de cem pessoas em Lisboa


Cerca de 100 pessoas participaram hoje, Dia Mundial por Darfur, numa concentração no Largo de Camões, em Lisboa, para alertar a comunidade internacional para a crise humanitária que afecta aquela região do oeste do Sudão.

Manifestações semelhantes realizaram-se em mais de 30 países para exigir uma acção urgente que ponha fim à violência em Darfur, onde quatro anos de guerra civil provocaram mais de 200 mil mortos e 2,4 milhões de deslocados e refugiados, segundo números das Nações Unidas.

Em Lisboa, a concentração foi organizada pela Plataforma "Campanha por Darfur", que reúne sete organizações não-governamentais (ONG), e que está também a promover uma petição para ser entregue à presidência portuguesa da União Europeia para que este "drama humanitário" seja debatido na Cimeira UE-África, prevista para Lisboa a 8 e 9 de Dezembro.

"Darfur pode parecer distante para os portugueses, mas neste momento Portugal tem uma maior responsabilidade para actuar, já que assume a presidência da União Europeia", disse à Lusa a vice-presidente da Amnistia Internacional (AI), Zé Justino, adiantando que "é urgente preparar a força de manutenção de paz da ONU", decidida em Agosto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A vice-presidente da AI sublinhou que é igualmente importante que os líderes internacionais pressionem o governo sudanês para que "não aproveite este período de preparação das forças de manutenção de paz para continuar ou aumentar a violação dos direitos humanos".

A concentração de hoje pretendeu ainda, segundo Zé Justino, informar a sociedade civil sobre o "drama" de Darfur, uma vez que "muita gente desconhece a crise" que se vive nesta região. A mesma responsável manifestou-se satisfeita com o número de portugueses na iniciativa, considerando que a organização "não estava à espera de um concentração imensa".

O padre Leonel Claro, dos Missionários Combonianos, disse à Lusa que as ONG "apenas têm força para alertar para o problema", não tendo capacidade para resolver a situação. Por isso, "chamamos a atenção das autoridades internacionais para os problemas da segurança, para a ajuda humanitária urgente e para a concretização de acordos de paz", disse o padre.

Também presente na concentração, o eurodeputado do CDS-PP José Ribeiro e Castro, que em Junho esteve no Sudão no âmbito de uma missão da União Europeia, sublinhou que o Darfur "necessita de uma acção urgente" por parte da comunidade internacional, nomeadamente uma "mobilização mais acelerada" no que toca ao envio da força de paz.

No entanto, o deputado europeu considerou que a comunidade internacional está a fazer muito, destacando o Programa Alimentar Mundial, agência das Nações Unidas da qual depende a segurança alimentar de cerca de três milhões de pessoas.

No Largo de Camões foi ainda inaugurada uma exposição com fotografias sobre Darfur e feita uma síntese da situação humanitária.

Os cerca de 100 portugueses que se concentraram em Lisboa fizeram ainda um “minuto de barulho” pelos homens, mulheres e crianças daquela região do Sudão, além de terem colocado nos olhos uma venda preta, durante 30 segundos, para que não permaneçam indiferentes à crise.

sábado, setembro 15, 2007

quinta-feira, setembro 13, 2007

«This is not cojones, this is cowardice.»




Mais uma vez o governo demonstra subservientemente, ao não receber o Dalai Lama, que é uma colónia de interesses internacionais.

Onde está a postura direita?, a sua dignidade?, a capacidade de decisão interna sem cedência a interesses internacionais abstractos?
Portugal está nas mãos de pessoas que acham que é melhor não «incomodar» a China do que ter a liberdade (sim, porque é disso que se trata) de receber quem achar bem.

Um governo manietado, um governo que não é livre, não é um governo saudável para este país. Como pode isto continuar assim?

Entre ministros iberistas e outros chinesistas, isto vai de mal a pior.

Não aprecio muito a figura de John Howard, primeiro-ministro da Austrália, mas teve a capacidade de dizer aos chineses que se mantivessem afastados de assuntos internos australianos (aquando da recepção por parte do governo do Dalai Lama), «arriscando» os milhões de dólares do volume de negócio Austrália-China.

Quanto ao caso presente em Portugal, nas sábias palavras de Madeleine Albright, embora sobre outro assunto (perdoem o estrangeirismo), «This is not cojones, this is cowardice.».

sexta-feira, setembro 07, 2007

Manuais Escolares

O logro dos manuais escolares em Portugal é incrível. Ricos e pobres são forçado a gastar rios de dinheiro desnecessariamente, sob pretextos pouco plausíveis. O que haveria de errado, para além do corte nos lucros das editoras, em haver um sistema de "caução", onde os estudantes pagavam o custo dos livros no início do ano, mas sendo este montante devolvido aos mesmos no final do ano lectivo se os livros voltassem em boas condições? No ano seguinte, os mesmos livros poderiam ser utilizados por outros alunos. A História de Portugal, por exemplo, é algo que não se pode mudar. Bons manuais decerto não necessitarão de actualizações anuais.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Palavras Sábias

"...nunca mais quero saber do Estado português - o que me dá muito maior liberdade para saber de Portugal." - Agostinho da Silva

domingo, setembro 02, 2007

Foi criado o Instituto da Democracia Portuguesa

Na foto (desde a direita): Dom Duarte de Bragança, Mendo de Castro Henriques e Miguel Chaves no acto da Escritura do IDP.


(Excertos dos Estatutos)


I
Instituição

1º A Associação denominada Instituto da Democracia Portuguesa é instituída nos termos da Lei e dos presentes Estatutos e doravante é designada por Associação.


II
Princípios Fundamentais

1º Para a Associação, Portugal é e deverá ser sempre um Estado independente.

2º A Associação defende a necessidade de Portugal evoluir politicamente para uma sociedade mais democrática no âmbito do princípio de soberania popular e no pleno respeito pelo Estado de Direito, nomeadamente através da liberdade de definição
constitucional da forma de governo.

3º O disposto no parágrafo 1º não prejudica a integração europeia de Portugal, salvaguardada a personalidade jurídica do Estado português como sujeito de direito internacional, com capacidade jurídica internacional igual à dos outros Estados que integram a União Europeia, sem prejuízo de especificidades institucionais
comunitárias que não inibem essa personalidade e essa capacidade.


III
Objecto

O objecto da Associação é a realização de estudos, colóquios, seminários, visitas e viagens de estudo


IV
Finalidade

1º A finalidade da Associação é o aprofundamento da Democracia em Portugal como Estado independente no âmbito da União Europeia.

2º A realização desta finalidade decorre de iniciativas culturais e de realização de estudos e pareceres e respectiva divulgação em todas as vertentes publicamente relevantes.

3º A divulgação referida no parágrafo anterior implica a tomada de posição sobre as causas, eventos, candidaturas, projectos políticos e quaisquer outros assuntos considerados relevantes para o futuro de Portugal, nos termos dos presentes estatutos.

4º A Associação mais incorpora na sua finalidade o estudo e o poder de deliberação sobre questões globais da actualidade.

5º A Associação trabalhará com todas as entidade que se revêem nos príncipios fundamentais da cláusula II, colaborando em iniciativas propostas por essas entidades, e sugerindo outras iniciativas.

****

Na sequência do acto de constituição da Associação denominada Instituto da Democracia Portuguesa, ao abrigo dos artigos nº167 e seguintes do Código Civil, reuniram-se pela primeira vez e a título informal na sua sede em Lisboa, aos nove dias do mês de Agosto e na presença do Presidente Honorário, o Senhor Duque de Bragança, todos os elementos que presenciaram o referido acto de constituição e que pretendem assim manifestar a sua vontade inequívoca de pertencer ao Instituto da Democracia Portuguesa na qualidade de associados.

Dom Duarte de Bragança, Presidente Honorário
Gonçalo Ribeiro Telles
Mendo Castro Henriques
António Feijó
Miguel Mendonça Chaves
Frederico Brotas de Carvalho
Ricardo Abranches
Rodolfo Bacelar Begonha
Manuel Amaral
Leonardo de Melo Gonçalves
Inês de Mena de Mendonça
Joao Mattos e Silva
Pedro Castro Henriques
Margarida Oliveira
David Nuno Mendes Garcia
António Rosas Leitão
Luis Miguel Loia Reis
Luis David e Silva
Otto Czernin
Manuel Ferreira dos Santos
Bento Moraes Sarmento;
André Teotónio Pereira

sábado, setembro 01, 2007

Princípio e Fim do Mundo do Meio

Mundo do Meio. Podia-se resumir o mundo no seu estado actual com esta expressão apenas.

Já se escreveram inúmeras linhas sobre o armagedão, o apocalipse, enfim, todas as formas possíveis para o «fim do mundo». Também se explorou por infindáveis avenidas os princípios remotos do Universo, tentando sondar esse início que, apesar de tudo permanece misterioso.
Esta é a perspectiva do ponto de vista cronológico, ou seja, aplicando as palavras «princípio» e «fim» como definições temporais. No entanto estes são também vocábulos que se prestam a definir conceitos morais e éticos - princípios - e aplicações concretas e práticas - os seus fins. Ora, acontece que por interessante analogia, nos encontramos hoje no Mundo do Meio.

Passo a explicar.
Um exemplo: expressão hoje utilizada ou implícita na geopolítica e na conduta política: «os fins justificam os meios». Somos quase que governados pelos «meios» de comunicação social, ou media na sua designação internacional, que aliás denota e transmite exactamente o mesmo sentido. Também hoje já não conta a viagem ou a experiência, mas sim o «meio» de transporte que se utiliza. E diga-se, desde a publicidade às conversas de café, todos andam obcecados com o «meio» de reprodução, mais do que com uma salutar construção de uma família e sociedade. Também é tomado como sagrado aquilo que vem do «meio» científico, dando lugar a que se explore por explorar sem para pensar e reflectir sobre se se deve ou não seguir certos caminhos. Sendo também verdade que o «meio» académico já viu melhores dias - tanto relativamente a si próprio como à visão que outros têm dele.

Muitos outros «meios» há que pautam a nossa existência, mas estes «meios» bastam para demonstrar que a sociedade premeia o «médio», o «intermédio», o «efémero», o «denominador comum», a «estatística» e finalmente a «média». É um mundo, agora sim, sem princípios nem fins, pois dispõe apenas de «meios».

O Mundo do Meio é uma fabricação que em tudo corresponde à qualidade mediana dos «meios» que o compõem. Apenas desejo que mais e mais pessoas olhem para os princípios, aplicando-os aos seus próprios fins. Talvez seja este princípio, o fim, do Mundo do Meio.

segunda-feira, agosto 27, 2007

«Cada vez mais me pergunto: o que é que esta República trouxe a Portugal no último século de história?»

Frase ouvida junto à recepção de um hotel rural, no Alentejo profundo.

São cada vez mais a fazer a mesma pergunta.

terça-feira, julho 17, 2007

Resposta a Saramago

Abençoada a alma que escreveu, em resposta a Saramago:

"Mais vale ser português por um minuto que castelhano toda a vida."

quinta-feira, julho 05, 2007

O Rei vai Nu, ou as Riscas do Berardo

De um modo inesperado e não intencional, dei por mim no CCB a ver a recém-aberta exposição da Colecção Berardo. A entrada foi livre, o "pecado" assim facilitado. Nunca teria ido se não fosse grátis, sou uma pessoa que gosta de calcular bem o risco, e as hipóteses eram de 99 para 1 de esta ser uma mostra completamente revoltante.

Porém, milagre, não o foi - revoltante, isto é. Aliás, pensei que a falta de qualidade nas peças mostradas fosse bastante maior. No entanto, houve este episódio que ilustra a total falta de critérios quando se profere a palavra «Arte».

Durante a visita, eis um painel com riscas verticais, pretas e brancas. Ia acompanhado por uma pessoa que conhece bem os meandros deste mundo da dita Arte, e esta, ao ver ao longe a peça das riscas, afirma de imediato o nome do autor - que verifiquei estava correcto. Perguntei-lhe «como é que consegue saber de quem é uma peça destas, se são apenas riscas pretas e brancas?» Disse-me esse entendedor: «É fácil. O fulano que fez esta peça foi o único que conseguiu convencer suficientes pessoas de que aquilo que fazia tinha valor. Como o critério da exposição é o valor monetário, então estas eram as únicas riscas suficientemente caras para poder estar aqui presentes.»

O problema destas exposições é este mesmo. Ou estamos confiantes daquilo que achamos sobre a peça - eram riscas - ou se deixamos uma ponta de insegurança espreitar, rapidamente poderíamos encontrar-nos pensando «seria mesmo preto, seria mesmo branco? se calhar era quase preto, ou quase branco - e que significado terá isso? a constante procura do perfeito, do exacto? colocado em linhas verticais paralelas - como quem diz "não estás só!"» +++ALTO!+++. É perigosa esta rota... simplesmente porque eram apenas riscas, muito provavelmente brancas imaculadas e pretas profundas. O dito artista não passa de um insinuador, alguém que sem saber o que quer dizer, qual charlatão, deixa no ar largos inuendos que nem ele sabe onde vão dar. Dirá ele "é isso mesmo a Arte, provocar o diálogo, a reflexão". Tretas. Tem razão sobre os benefícios de provocar o diálogo e reflexão, mas não à custa da dignidade das pessoas. Sim, dignidade, pois é indigno chamar a uma coisa destas uma exposição de Arte e pedir a todos que vão na conversa, tratando os que discordam como incultos.

Para além do mais, com a insegurança que hoje reina, é muito comum ouvir-se dizer «Ah! Eu gosto, mas não percebo nada de Arte.» Este grupinho internacional de charlatães profissionais conseguiu convencer o mundo de que a Arte se tinha de entender, quando a arte tem, acima de tudo, de ser sentida e apreciada. Poderá eventualmente ser racionalizada, mas a Arte não vive, não respira, e logo não existe se estiver reduzida a um nada caótico que precisa de tradução de um crítico qualquer.

No video abaixo, uma experiência ilustradora da confusão generalizada, uma pintura feita por crianças de um infantário é levada para a ARCO, feira de arte contemporânea em Madrid. Ninguém na feira duvida de que é uma peça valiosíssima e de enorme qualidade artística. Tudo isto passa pelo pensamento «eu não percebo nada disto, mas se está aqui, é porque é bom.» Ao que isto chegou...



Nota: Na ausência de uma imagem da dita peça das riscas pretas e brancas, pensei em ilustrar este post com outra imagem qualquer do mesmo tipo de riscas. Não o fiz. Decerto havia algo naquelas riscas do Berardo que escapou à minha percepção, e não quero assim causar nenhum constrangimento a possíveis conhecedores da obra desse excelso artista cujo nome agora não me recordo (e que peço não mo lembrem).

sábado, junho 02, 2007

Aos Hiperdemocratas: A Monarquia faz bem à Democracia!

Sobre a questão que levantam alguns "hiperdemocratas" (sempre imagino que serão aqueles que provavelmente só escolhem um lugar de estacionamento específico se for sujeito a votação e se ganhar por maioria qualificada):

Dizem estes que «um chefe de estado deve ser eleito, senão é algo anti-democrático».

A resposta é simples e segue uma lógica, também rica em simplicidade:

1º O primeiro objectivo de qualquer sistema político é servir o País.
2º A Democracia, na sua concepção, serve, neste momento histórico*, os melhores interesses de Portugal, sem dúvida.

Porém, se houver um consenso nacional, tome ele a forma que tomar, que uma Monarquia hereditária é melhor para o País, não há razão para invocar que a ausência de sufrágio para o Chefe de Estado é algo anti-democrático, pois tal não é válido, visto que o que está em causa é servir ou não o interesse do País. Da mesma maneira, se o objectivo da democracia é servir o país, também esta é delimitada pela extensão até à qual deixa de o fazer.

Ou seja, neste caso específico, serve melhor o país uma monarquia, regime onde não se escolhe o Chefe de Estado do que um regime onde há uma "oferta" de 4 ou 5 candidatos para o lugar. A lógica do mercado não se aplica nesta decisão. Haver escolha, não implica haver qualidade, pois um Rei, preparado desde sempre para o papel que vai desempenhar e com o único intuito de Ser Português e de servir o país, é infinitamente mais qualificado do que qualquer outra pessoa. Como Portugueses devemos exigir qualidade para a nossa Chefia de Estado e levar este nosso posicionamento até ao fim.

Se um Rei serve melhor os nossos interesses, então façamos essa opção, apoiando a transição para a Monarquia.

Aliás, lembro aos "hiperdemocratas", que tradicionalmente cabe às Cortes/Parlamento a aprovação do Rei e também a elas cabe encontrar uma alternativa, caso o Rei não esteja à altura da função que desempenha.

Está mais que demonstrado que a Democracia e a Monarquia podem, não só coexistir, mas também interaperfeiçoar-se. Às vezes é até ridículo estar a ter esta conversa quando 6 dos 10 países com maior qualidade de vida em todo o Mundo são Monarquias.+

Aliás, é no mínimo descuidado sugerir que países com a tradição democrática da Espanha, Noruega, Suécia ou Reino Unido, tolerariam uma solução dita "anti-democrática" para a sua Chefia de Estado se tal não servisse os seus melhores interesses.

* - Digo «neste momento histórico», visto que no passado, outros sistemas houve que, naquela época e mentalidade serviam melhor os interesses de Portugal. Refiro-me particularmente ao regime que vigorava antes do Absolutismo Régio.

+ - De acordo com o Quality-of-Life Index (2005), publicado pela revista britânica The Economist, que aliás, segue uma orientação editorial republicana.

quinta-feira, maio 24, 2007

A Recriação da Natureza: Entrevista com Ribeiro Telles



Foto: Portal do Jardim

À margem do Congresso "Jardins do Mundo" que se realizou no Funchal nos passados dias 9-12 de Maio de 2007, o Portal do Jardim foi conversar com o Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles. Uma personalidade incontornável do mundo do Jardim, dedicou toda uma vida à defesa dos valores da Terra e do Ambiente. Recebeu, no âmbito também deste congresso, uma merecida homenagem que partilhou com o filósofo Eduardo Lourenço (leia mais aqui).

Portal do Jardim (PdJ) - Qual é a sua primeira memória de um jardim?

Arq. Ribeiro Telles (RT)- A Av. da Liberdade, onde nasci.

PdJ - Enquanto jardim?

RT - Enquanto avenida... A avenida é um jardim.

PdJ - E que importância tinha para si?

RT - Era um sítio onde se passeava, onde se brincava. De certo modo um sítio aprazível com árvores.

PdJ - Sempre gostou do jardim num contexto urbano, correcto?

RT - O jardim é qualquer coisa que é independente do contexto urbano e é independente de outro contexto qualquer.

PdJ - O Arquitecto costuma dizer que «tudo é um jardim»...

RT - Tudo caminha para tal. A humanização da terra, do território, caminha evidentemente para uma paisagem bela, para uma paisagem equilibrada, portanto é um macrojardim. O que não quer dizer que um macrojardim não contenha depois microjardins, na acepção mais perfeita do termo, que é um microcosmos, uma paisagem ideal.

PdJ - Quando é que decidiu ser Arquitecto Paisagista?

RT - Encontros. Até como era uma matéria que não estava lançada no país, fui caminhando no sentido da agronomia, primeiro – e paralelamente tinha condições para arquitectura, portanto tinha dois caminhos a seguir. Segui o da agronomia, mas na agronomia encontrei os primeiros passos da arquitectura paisagista, num curso livre de arquitectura paisagista e foi assim, uma obra do acaso.

PdJ - Estabelece alguma ligação entre a sua vivência na infância da Avenidade da Liberdade e a sua escolha em enveredar pela sua área profissional?

RT - Não, não. [risos] Acho que não vale a pena tentar encontrar ligações dessa ordem.

PdJ - Não estabelece essa ligação entre a infância...

RT - Não. Eu demarquei a Avenida da Liberdade por que dela também fazem parte os quintais que existiam. Portanto, tanto bricávamos na Avenida da Liberdade como brincávamos nos quintais.

PdJ - Que resultado é que pensa que terá este desaparecimento progressivo dos quintais na vida das famílias?

RT - Há um regresso negativo. Como sabe, os quintais estão todos a ser transformados em garagens, em pavimentos impermeáveis e estão a desaparecer. Aí há um aspecto muito negativo para a cidade, para a cidade como habitat, como conforto e até como beleza. É trágico o que está a acontecer - a destruição sistemática do que era o verde integrado na própria cidade.

PdJ - Acha que a vivência dos jardins pode trazer felicidade?

RT - Tudo contribui. O que interessa é saber escolher e saber viver.

PdJ - Como é que vê a tendência dos municípios continuadamente cederem ao lobby do betão, ou da celulose?

RT - É uma falsa ideia de progresso, que de certo modo se criou da ideia de que o progresso era o volume construído. O choque da Revolução Industrial levou a que isso parecesse ser o progresso, quando isto é claro que não é progresso, é até retrocesso. Portanto estamos nessa época de transformações.

PdJ - Pensa que será um problema de falta de formação cívica por parte dos decisores? Acha que se trata de pressões externas?

RT - É as duas coisas juntas. Muitos estão convencidos que o futuro resulta de um artificialidade total da vida, de superficialidade e de uma maneira de viver que vem da facilidade dos fluxos energéticos para a vida humana, que está a acabar. Portanto temos que não andar para trás, temos é que recriar as condições da vida.

PdJ - Acha que esse é o caminho para inverter a situação...

RT - É recriar, não de ir para trás. Enfim, uma recriação é sempre uma criação que tem um sentido determinado e umas bases determinadas. Evidentemente que portanto é um reencontro com a Natureza, mas no sentido humanizado da Natureza, em que se inclui também, mas não só, os problemas da protecção do espaço, da produção do espaço. Nós vivemos de facto num sistema ecológico forte, que vive também de transformar esses espaços de protecção em espaços de recreio.

PdJ - Há hoje uma moda emergente, especialmente em França, de criar jardins verticais. Como vê esta opção arquitectónica?

RT - É mais um aspecto decorativo, que não resolve o assunto. É o mesmo que pegar numa fachada e revesti-la de azulejos, onde antes nada existia. Há um elemento fundamental a recriar nesta paisagem global do futuro, porque nós caminhamos para uma paisagem onde os dois sistemas, o natural e o artificial do abrigo, se vão conjugar e harmonizar. Nos diferentes espaços, em que muitas vezes é o contínuo o elemento construído e o residual é, digamos, o elemento verde, tem que haver uma interligação entre essas situações e as situações em que se dá o contrário, em que o elemento contínuo é o sistema natural e o elemento descontínuo é construído. É aí que está o grande jogo do planeamento moderno.

PdJ - Há hoje nitidamente um decréscimo no contacto entre jovens e a Natureza, as zonas rurais. Numa conferência recente, o Arq. Ribeiro Telles sugeriu que deveria haver subsídios para os jovens voltarem ao campo e às aldeias. Acha que é uma proposta viável?

RT - Subsídios não, mas sim capitalizar os jovens – que é diferente do subsídio.

PdJ - Um forma de conduzir os jovens...

RT - Não é para conduzir, é para fazer viver as aldeias, em que os jovens são fundamentais. A possibilidade de fazer viver as aldeias, não é com o turismo – que vem a seguir, é recuperando a agricultura de base local e de base regional. É essa de facto a que hoje está a ser muito necessária para o país e não a de competição a nível internacional. A recuperação da agricultura para espaço, para protecção. A agricultura não são fábricas, para apertar parafusos... A agricultura é um mundo que trabalha, que tem actividade no solo, solo esse que é um elemento da crosta terrestre de transição da parte geológica para a atmosfera, fundamental para toda a vida humana, e para toda a vida. Por isto é que houve a necessidade de criar reservas de protecção ao solo, que foram tão mal entendidas pelos técnicos, pelos municípios, pensando que eram obstáculos ao desenvolvimento quando eram de facto a garantia do desenvolvimento.

PdJ - É optimista quanto ao futuro, naquilo que diz respeito aos jardins e o modo como são vividos? Esses microcosmos...

RT - Nós partimos de uma natureza primordial, que é chamada de primeira natureza e o Homem transformou essa primeira natureza numa natureza mais bela, biologicamente mais activa, mais biodiversificada até, com a criação das orlas e portanto o problema é recriar esse sistema, porque senão não há vida. Portanto, quando se ouve estas campanhas constantes em nome do desenvolvimento até da liberdade das pessoas poderem fazer o que quiserem em qualquer lado... até técnicos juristas e economistas caíram nessa «arara» e arranjaram estes «trinta e um» tremendos que são os fogos florestais, a expansão urbana indiscriminada, que agora se vêem aflitos para resolver. [A solução] é a recriação, é novamente a intervenção para situações de modernidade de uma paisagem global que inclui os sistemas naturais, florestais e cultura e os sistemas de abrigo artificiais onde estão as construções.

segunda-feira, maio 21, 2007

Definição de "Political Correctness"

"Political Correctness is a doctrine fostered by a delusional, illogical liberal minority, and rapidly promoted by an unscrupulous mainstream media, which holds forth the proposition that it is entirely possible to pick up a turd by the clean end."

Tradução livre: "O Politicamente Correcto" é uma doutrina alimentada por uma minoria liberal, ilógica e desligada da realidade, rapidamente promovida por meios de comunicação social sem escrúpulos, que propõe que é completamente possível pegar num «cagalhoto» sem sujar as mãos.

sexta-feira, maio 18, 2007

Dos Túmulos e sua Abertura

Posso estar errado, mas se bem me lembro, quem tinha a obsessão de abrir túmulos de reis seus antepassados era D. Sebastião... Não me parece boa prática, seja porque razão for. A causa da investigação científica não pode ser cega à importância, quase metafísica, que o colectivo atribui aos túmulos dos reis, ainda mais, do rei fundador.

Poder-se-á dizer que se abrem túmulos egípcios sem quaisquer menções de oposição. Correcto, mas é uma cultura morta, já sem representantes. Porém, a cultura portuguesa ainda vive. Vive de vivências, de mitos, de História e estes não podem ser mexidos e remexidos indiscriminadamente.

Obrigado, Sra. Ministra, por deixar descansar Afonso Henriques.

quinta-feira, maio 03, 2007

Sobre o «Desenvolvimento»


Foto: Monsaraz, Alto Alentejo. Um lugar raríssimo onde ainda se respira o ar da Idade Média, é um dos poucos locais que tem vindo a escapar a um Turismo extremo. Porém, os empreendimentos ligados ao Alqueva ameaçam tornar esta vila em algo que não é: uma loja. Esperemos que os autarcas e as gentes da terra tenham o senso de manter a sua vila para que não se perca mais um monumento vivo a favor do comércio e do Turismo em massa.

O conceito de «desenvolvimento» é hoje algo de que se usa e abusa para corresponder a interesses particulares, raramente de acordo com o interesse nacional.

Aquilo a que chamam o desenvolvimento do turismo, criou em muitos casos, situações onde os próprios habitantes se sentem excluídos da sua terra natal, dando lugar a um mar incessante de turistas que alimentam as lojas de souvenirs. Isto será decerto «desenvolvimento», mas estritamente económico e para poucas empresas que dominarão o mercado nessa zona. A maioria dos habitantes sentir-se-á excluído da sua própria rua, onde os preços são inflacionados «para inglês comprar». Não há nada de errado com o Turismo em si, note-se, mas este deve ser proporcional à área em causa e sempre de acordo com o interesse da população local, que aí cresceu e viveu e cuja vivência do sítio tem de ser respeitada.

O mesmo «desenvolvimento» económico que fomenta o comércio, acarreta consigo as desigualdades sociais que dão origem às ondas de crime nos países ditos civilizados, às quais Portugal ainda vai escapando, dado o seu «atraso».

O Verdadeiro Desenvolvimento é aquele que cada país escolher fazer, para si próprio - é um opção. Trará animosidades, frustrações, etc... mas a essência de Portugal, como se vê pelo estado do País, não é compatível com o capitalismo cego que pauta os mercados ocidentais, nem é compatível com o modo de viver dos novos escravos do emprego, que alimenta as economias ditas «avançadas» e desenvolvidas; a essência de Portugal também não tolera as obrigatórias disparidades que caracterizam os países que querem fazer de si mesmos uma massa disforme de betão armado.

Poderão dizer que esta é a apologia do atraso. Não é disso que se trata - é sim fazer uma opção de vida conjunta. Se quisermos ser como os outros, perderemos o «jogo», porque não somos os outros, mas se assumirmos as nossas diferenças e seguirmos o nosso caminho, em cooperação e não em subserviência dos estilos de vida dos outros países talvez possamos seguir um caminho que não seja uma traição tão grave daquilo que Portugal e os Portugueses realmente são.

domingo, abril 08, 2007

terça-feira, março 27, 2007

Lançamento: Agostinho da Silva - Pensador do Mundo a Haver


3 Abril - 3ªf - 18h
Fundação Calouste Gulbenkian - Auditório III

A Editora Zéfiro e a Associação Agostinho da Silva têm a honra de convidar V. Exa. para o lançamento das Actas do Congresso Internacional do Centenário de Agostinho da Silva: Agostinho da Silva, Pensador do Mundo a Haver. A obra será apresentada pelo Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício, ex-Reitor da Universidade de Évora. O evento realizar-se-á no dia 3 de Abril, às 18 horas, no Auditório III da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

«O presente volume de Actas corresponde ao momento cientificamente mais significativo das Comemorações e de toda a recepção da obra agostiniana, o Congresso Internacional que reuniu três das principais universidades portuguesas, acolheu investigadores de diferentes nacionalidades, formações e gerações e constituiu a homenagem da academia portuguesa a um dos seus mais notáveis e ostracizados filhos. Cremos que a presente obra é já um marco no necessário e desejável estudo crítico e científico do pensamento de Agostinho da Silva, que ainda permanece refém de muitos preconceitos, a favor e contra, apenas devidos, quando assim acontece, à ausência de uma leitura global, atenta e reflectida da sua obra, que atenda aos diferentes períodos da sua génese e evolução e procure os fundamentos e articulações que estruturam as suas proposições mais visíveis.»

Paulo Borges
in Prefácio

quinta-feira, março 22, 2007

Desocracia


O que uma letra apenas faz.

Hoje, em Portugal, apressamo-nos rapidamente para uma Desocracia, ou seja, o governo de um Sócrates.

Com a concentração da influência sobre as agências de informação, com a atitude autocrática, com o agora comum "quero posso e mando" do primeiro-ministro (& companhia), Portugal, enquanto nação cultural, não enriquece nem enriquecerá qualitativamente.

O paradoxo da nossa democracia (ou tentativa de) está hoje visível: o que fazer quando um partido (e no caso actual, um partido centrado numa cultura de personalidade do seu líder) tem maioria absoluta e não enfrenta nenhum tipo de oposição eficaz (nem interna, nem externa, nem do chefe de estado, nem da sociedade em geral). Por onde anda a democracia propriamente dita?

Escrevo sobre o actual governo como poderia escrever sobre qualquer um, de qualquer partido, na mesma situação. É gravíssimo que não haja nenhum representante independente e supra-partidário que coloque os governos no seu devido lugar: um grupo de pessoas que são pagas para administrar o Estado e que têm de prestar contas aos cidadãos. Este prestar de contas não pode ser feito de 4 em 4 anos por qualquer expressão de sentimento ou estado de alma, deve ser antes uma atitude permanente de respeito por parte dos governos por aqueles que os elegeram. Um governo não lidera uma Nação, é apenas o motor que põe em movimento a máquina que é o Estado. Seria bom que tanto os governantes como os governados tomassem consciência disto - para os primeiros terem mais humildade e para os segundos não estarem à espera que os primeiros sejam a resposta a todos os problemas.

Esta humildade que espero de um governo, aplicada ao chefe de estado seria, aqui sim, nefasta. Li na Visão da semana passada que uma senhora que sempre votou em Cavaco está hoje desiludida, pois a humildade que apreciava se confunde hoje, na sua opinião, com cobardia. «Estamos perdidos...», acrescenta.

Não estamos perdidos, mas também não estamos achados. O que decerto não podemos estar é reféns de uma situação onde o chefe de estado está ligado aos partidos que deveria "fiscalizar" e, resultado da sua chamada humildade, não intervém como deveria.

A Democracia assim não existe. Assim vamos andando... hoje em desocracia, amanhã quem saberá? A matriz dos princípios da organização do Estado deveria ser uma constante e não algo que dependa de personalidades mais ou menos democráticas.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Filme: O Grande Silêncio


"O Grande Silêncio é o primeiro filme sobre a vida interior da Grande Chartreuse, casa-mãe da Ordem dos Cartuxos, uma meditação silenciosa sobre a vida monástica. Dezassete anos depois de ter pedido autorização para filmar no mosteiro, é dada autorização para entrar ao realizador, que filmará a vida interior dos monges cartuxos. Sem música à excepção dos cânticos do mosteiro, sem entrevistas, nem comentários, ou artifícios. Evocam-se unicamente a passagem do tempo, das estações, os elementos repetidos incessantemente durante o dia ou as orações. Um filme sobre a presença do absoluto e a vida de homens que dedicam a sua existência a Deus. O filme ganhou os Prémios de Melhor Documentário no Festival de Sundance e nos Prémios Europeus do Cinema." (in Cinecartaz - PÚBLICO).

Os monges cartuxos, que ainda podem ser encontrados em Portugal, na Cartuxa de Évora, formam a ordem fundada por S. Bruno em 1084. São eremitas que vivem em comunidade, em silêncio e contemplação.

A Cartuxa de Évora

Aquele que persevera firme na cela e por ela é formado, tende a que todo o conjunto de sua vida se unifique e converta numa constante oração. Mas não poderá entrar neste repouso sem ter-se exercitado no esforço de duro combate, já pelas austeridades nas que se mantém por familiaridade com a cruz, já pelas visitas do Senhor mediante as quais o prova como ouro no crisol. Assim, purificado pela paciência, consolado e robustecido pela assídua meditação das Escrituras, e introduzido no profundo de seu coração pela graça do Espírito, poderá já não só servir a Deus, senão também unir-se a Ele. (Estatutos da Ordem dos Cartuxos 3, 2)

Mais info: Os Cartuxos

segunda-feira, fevereiro 12, 2007


THE ANGEL OF HISTORY de Ernst Fuchs
(Estudo para a paróquia de Sto. Egídio, Igreja Paroquial de Klagenfurt), 1992
Têmpera de ovo, técnica mista sobre tela, 190x330cm.

domingo, fevereiro 11, 2007

I have been branded as a traditionalist, as if tradition was some kind of disease that had to be sprayed at airports. Príncipe Carlos de Inglaterra.

[Chamaram-me tradicionalista, como se "tradição" fosse algum tipo de doença que precisa de descontaminação em aeroportos.]

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Blogs are today's revolutionary pamphlets, websites are the new dailies and list-servers are today's broadsides

Audrey Cronin da Universidade de Oxford. (in The Economist, 16 Nov 2006)

A Monarquia imprime verticalidade à República


A Monarquia imprime verticalidade à República, ou seja, dá-lhe um sentido ascendente, culminando na figura Real - que é exemplo de isenção e de excelência.

Ora se a Monarquia é um elemento de verticalidade, então é sem dúvida algo transversal, podendo cada grupo, seja ele político, económico ou social depreender quais as vantagens para si próprio de um tal sistema existir em Portugal. Todos os grupos, excepto claro os republicanos acérrimos, que não quiserem aceitar este sistema, mais por teimosia ou comodismo do que por falta de compreensão das suas vantagens.

Quanto a mudanças de fundo no funcionamento e organização do País: eu costumava ser da opinião de que apenas propondo uma mudança drástica é que o povo reconheceria a Monarquia como alternativa merecedora. No entanto, parecece-me hoje que as mudanças que são necessárias fazer não podem ser nem instantâneas nem apressadas. Tenho a certeza porém de que tais alterações não são viáveis no regime actual e que a Monarquia se apresenta como único ambiente onde tais mudanças podem ter lugar.

Concluíndo, a República decai a olhos vistos; a Monarquia não resolve coisa alguma senão o facto de inverter a tendência - sendo assim um factor, indirecto, de regeneração de Portugal. Neste momento da vida nacional, esta inversão de tendência é, a meu ver, aquilo por que temos de lutar com todo o empenho.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Filme Recomendado: The Queen


(clique para ver apresentação)

É ainda possível ver nalguns cinemas este filme onde Helen Mirren encarna magistralmente a personagem de Isabel II. A realização é de Stephen Frears.

A acção passa-se após a morte da Princesa Diana e mostra como a Família Real Inglesa lidou, tanto com o choque de uma tragédia familiar, mas também com o aspecto mediático a ele afecto.

Infelizmente, devido ao media circus à volta da Monarquia no Reino Unido, a Rainha acabou por se ver quase refém de um primeiro-ministro recém-chegado e muito persuasivo e, indirectamente, de um spin doctor, interessado apenas nas sondagens e naquilo que é "popular" e "parece bem". Porém soube manter a dignidade e esse, na minha opinião, é o aspecto mais construtivo do filme.

As semelhanças dos actores com os seus personagens é assombrosa. Vale a pena ver!

terça-feira, janeiro 16, 2007

Alter..nativa?, por MCH


A Coudelaria de Altér vai ser substituída por uma nova Fundação controlada pelo Estado e pelos Privados a que parece querer chamar Fundação de Altér e que se constitui por fusão desta e da Companhia das Lezírias.
Do destino que se dará aos cerca de 80 empregados da Coudelaria e se as instalações continuarão a A Coudelaria foi fundada em 1748, pertenceu à Casa de Bragança, e depois foi propriedade da Coroa Portuguesa. Com o derrube da Monarquia passou para a tutela do Estado e tem dado bom nome a Portugal.





Comentário:

Leonardo de Melo Gonçalves said...

A confirmar-se esta decisão, trata-se de mais um exemplo de como Portugal, que nem avião desviado, segue por uma rota que não é a sua.

O respeito pelo património histórico, por aquilo que constitui a face visível da identidade Portuguesa tem de ser mantido, custe o que custar e não podemos entrar na lógica mercantilista de julgar rentável ou não algo que tem em si valor simbólico.

Lembro que os governos Franceses e Italianos procederam recentemente à avaliação do património imobiliário do Estado e, aos monumentos de alto valor histórico foi-lhes atribuído a soma simbólica de 1 euro por cada - que nunca, jamais e em tempo algum serão vendidos por qualquer razão que seja.

Oxalá o governo de Portugal tivesse a decência de fazer o mesmo.

15 Janeiro, 2007 23:11

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quarta-feira, janeiro 10, 2007

Do Fundamentalismo Democrático

Nesta época de extremos e fundamentalismos, onde a letra se sobrepõe ao espírito em todos os sectores da vida (sejam eles a Religião, a Economia, a Política), só poderemos atingir qualquer tipo de equilíbrio concentrado-nos, precisamente, no "espírito" não na "letra". Como diz o Evangelho a letra mata, mas o espírito vivifica.

Falava ontem com uma pessoa quanto à liberdade de expressão religiosa de um Rei, ou de um Chefe de Estado. Dizia esta pessoa que um Chefe de Estado não deve assumir a sua fé em público, deixando qualquer prática desta ordem para a sua vida privada. Caso praticasse a sua fé em público, digamos o catolicismo, então deveria ir um igual número de vezes a uma mesquita e a uma sinagoga para poder representar todo o seu Povo. Ora, não podemos deixar que o mecanicismo democrático impere sem regras na nossa vida. O sentido literal, ou o "letra", da Democracia é ser o governo do Povo, para o Povo. Todos sabemos que isso é uma utopia e está longe de ser aquilo que acontece nos estados modernos de hoje, nomeadamente em Portugal. Portanto, se a "letra" não é possível de ser posta em prática, temos de nos virar para o "espírito" que é, simplesmente, o da defesa dos direitos individuais de cada um, da ordem pública, da justiça social, etc...

Portanto, o argumento de que todos somos iguais só é verídico se for dito "todos somos iguais perante a Lei" e só assim fará sentido. Se extrapolarmos este sentido de igualdade para a total aniquiliação de toda a hierarquia, factor natural que existe em todo o tipo de sociedades, então ficaremos sós num estado anárquico e de confusão generalisada. Não podemos exigir que todos sejam iguais nos seus hábitos, na sua actividade, etc... As sociedades só evoluirão através da diversidade das iniciativas pessoais ou colectivas, que lhe trazem riqueza e lhe conferem carácter.

Resumindo, e no exemplo dado da Religião na Chefia de Estado, temos de exigir ao Chefe de Estado um igual tratamento face às várias expressões religiosas, mas não lhe podemos pedir que professe em todas para a todas representar. Bem como não lhe podemos pedir que seja negro para poder representar os portugueses de raça negra. E decerto não lhe podemos pedir que não professe em nenhuma religião para poder ser imparcial, visto que não se trata de nenhuma escolha lógica ou política, mas sim de algo que é inerente a todo o Ser Humano, que é a sua relação com o Sagrado, algo de vocacional.

Deixemo-nos portanto de considerações pseudo-egalitárias ou do politicamente correcto que tentam fazer do colectivo dos cidadãos uma massa cinzenta e disforme, uma soma linear de todas as diferenças. Dediquemo-nos sim, à aceitação do oposto ou do desconhecido e enfrentemos o futuro com um projecto na mão. Se todos o fizermos, decerto contribuiremos para uma sociedade mais rica e mais diversa e, sobretudo, mais portuguesa.

terça-feira, janeiro 02, 2007

A Arte de Ser Português, por Teixeira de Pascoaes


[Sobre a paisagem portuguesa:]«É uma paisagem de contrastes que se abraçam e beijam com amor.»
(...)
«Os seres não realizam em si o seu destino, mas naqueles a que sacrificam a sua existência.»
(...)
«Imediatamente aos seus deveres de Família, o bom português cumprirá os seus deveres de munícipe.»
(...)
«A Poesia converte a matéria em espírito»
(...)
«Portugal foi livre, enquanto foi português nas suas obras»
(...)
«A escravidão é feita de descanso e de tristeza.»

Teixeira de Pascoaes, in Arte de Ser Português, Assírio e Alvim - 1998.

Perguntas difíceis...